domingo, 28 de outubro de 2007

Justa distribuição de bens

Desde algum tempo, li um pensamento do Servo de Deus Pe. Airton Freire que dizia mais ou menos assim:

“Se não ter quando se tem que ter pra dar causa extrema dor, ter mãos cheias sem ninguém para receber e desesperador...”

Essas palavras caíram como luva na compreensão de um certo desespero que as vezes sentia...

É fato que sempre, e não houve em minha vida um só segundo em que fosse diferente, fui agraciado com muitas pessoas que me amavam e para eu amar... Nesse bem pelas pessoas está parte da minha vocação...
Mas me dei conta de que não fiz uma boa distribuição de “bens” (entendidos aqui como os regalos do coração), acabei por dedicá-los a algumas pessoas em detrimento de outras.

Daí a confusão...
Nem sempre as pessoas a quem eu destinava esse bem estavam dispostas a recebê-lo fazendo com que eu me melindrasse... Aí o conhecimento do desespero do pensamento do Airton, e a milionésima porcentagem de compreensão do “Tenho sede” do Cristo Crucificado.
Egoísta, só conseguia ver a minha ação de sentir cair por terra todo o bem que dispensava e a dor conseqüente desse desperdício...
Cego pela erva daninha do egoísmo, precisei ser amado de forma desinteressada e sincera para poder enxergar que, semelhante aos que me faziam sofrer pela indiferença, era eu causador de semelhante mal quando, dado a momentâneos apegos, deixava cair por terra bens de incalculável valor a mim dispensados por alguns que, sem o devido reconhecimento, ao meu lado andavam.

Que gozado!!! Algumas das coisas que mais nos causam dor são justamente as que impomos como pena aos outros...

Fica então uma oração de aprendizado para mim e por todos os que amo:

“Que o Amor maior nos conceda a graça de sermos um BEM gratuito para todos”. Amém

Aniversário

Antigamente, o dia do meu aniversário era o dia mais esperado do ano... Sempre marcava, logo quando chegavam os primeiros calendários do ano novo, aquele que era o meu dia mágico, e começava a contagem regressiva...

Parte desse entusiasmo se deve ao zelo da minha mãe que, sem deixar passar um ano sequer, revezando sempre, um ano bolinho interno, noutro festa para amigos, mas sem que esse dia nunca passasse sem doces e carinhos...

Depois de entender-me gente, cessadas as festinhas infantis, esse dia continuava a brilhar como único no ano, por ser tempo específico e dedicado a ação de graças e a estima de me sentir especial...

Mas, de repente, esse dia se apagou do calendário, perdeu o brilho... Pensei que pelo endurecimento causado pela falta de alguns beijos essenciais que já não posso receber...

Mas não... Era o mais puro engano...

Tomando posse da estima e do amor de Deus por mim, ao pensar ter perdido o brilho esse dia de me sentir especial, fui enganado pelo efeito de ter todo o calendário se iluminado... Já não preciso de um dia para me sentir especial e dar graças a Deus; hoje, me sinto especial todos os dias e faço quanto posso para fazer, da minha própria vida, a ação de graças devida ao Senhor da vida.
E o dia do aniversário? Só uma razão para cair de boca no bolo de chocolate além da medida e dar boas risadas na companhia de quem amo.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Anjo e Demônio

Estranho como, no silêncio, as coisas parecem tão evidentes e causam sempre tanta divisão... Ouvimos sempre tantas coisas a que não procuramos o sentido e nem damos o devido valor... Mas no silêncio isso não é possível... E mais, ficamos sempre no pêndulo entre se certos ou errados... Não sei explicar muito bem...

Disse isso para introduzir os efeitos de uma frase que ouvi essa semana:

“Você exige muito das pessoas!”

Que confusão!!! Eu não sabia se me regozijava comigo mesmo ou se tomava “chumbinho” de uma vez e liberava a raça humana da maldição “eu”... kkkkkkkkk...

Dramas e gracejos a parte, essa observação caiu como uma bomba em meu interior, principalmente porque eu já a havia ouvido antes, só que sem dar-lhe atenção...

Senti-me extremamente culpado, como que em situação de supremo desrespeito para com as pessoas, para com o processo natural, e diferente para cada um, de desenvolvimento pessoal. Senti, levando em consideração experiências bem próximas, que talvez não tenha amado as pessoas como elas são; e uma tristeza profunda se apoderou de mim...

Repensei minha postura como educador, de como exigia dos meus alunos o melhor, de como insistia em aprofundar conteúdos, até além do que estabelecido para seus ciclos por conhecer-lhes a capacidade e o maravilhoso potencial que enchia as nossas aulas de questionamentos, exclamações e alegria... (saudades)... Aí veio uma mãe e disse, no ano posterior: “A minha filha, na sua matéria, vivia sempre no limite; agora, na escola “bambambam”, onde deveria ter dificuldades, só tira notas boas...”. Não sei se por desencargo de consciência pensei que talvez essa facilidade se desse ao fato de termos introduzido tantos conteúdos da série posterior, mas veio mais uma vez a exclamação alta e intrigante:

“Você exige muito das pessoas!”

E dói, viu!!! Tenho que dizer...
Talvez isso justifique as dificuldades que tive, ao longo da minha vida, com pessoas de cargos e egos superiores; talvez tenha-lhes exigido demais, solicitando melhorias, ofendendo-os assim em suas tão excelentes imagens de si mesmos...

De fato, nunca me conformei com pessoas de pensamentos pequenos... sonhos pequenos... Sempre lhes reclamei grandes sonhos, desabrochar de dons, mostrar as incríveis almas que carregavam mas que escondiam por ter se deixado oprimir por pressões exteriores ou pequenas derrotas... Estava sempre a fazer pressão contra pensamentos, ações e atitudes medíocres que não condizia com suas capacidades no intuito de fazê-las sempre desejar o melhor de si mesmas...

Assim eu me justifiquei ao que ela retrucou:
“Mas você não pensou que talvez elas fossem aquilo mesmo e estivessem felizes com o que são?”

Aí eu silenciei com um nó enorme na garganta que só agora consigo botar fora...

Passei a imaginar que talvez não tenha exigido de mim mesmo como exigi das pessoas; quis tanto que os outros fossem melhores que esqueci de ser melhor eu mesmo; afrontei a mediocridade sendo eu o mais fiel portador dela...

Agora, fazendo uso desse meio público, por saber terem sido muitas as minhas vítimas e assim não podendo fazê-lo pessoalmente, quero pedir desculpas pelo desrespeito aos seus momentos, aos seus jeitos de ser... e espero, encarecidamente, ser desculpado.

domingo, 30 de setembro de 2007

Nem que seja na porrada!!!



Estou cansado dessa gente egoísta que requer o direito de ser gente só pra si...
Estou em guerra e disposto a defender, nem que seja na porrada, o meu direito de ser gente... e ai de quem tentar contra ele!!!

Estou muito aborrecido... Dei-me conta de que fui deficiente, tive parte da minha humanidade amputada de mim... E sorri, bobo, como se essa fosse situação meritória...

Sem sonhos... vontades... Sempre em segundo plan... segundo? Terceiro, quarto, quinto... E eu que pensava que isso era virtude...

De quanta fecundidade é o silêncio...
De quanta libertação é o Amor de Deus...

Duas situações me gritaram esse meu erro maquiado de acerto:

Sumiu a minha gata, que eu tinha acabado de ganhar... E as pessoas de minha casa se aborreceram contra o meu direito de ficar aborrecido e triste... Senti minha vida interior ameaçada como se com um revolver apontado bem para minha cabeça, e gritei com todas as minhas forças... gritei como nunca tinha gritado antes... e senti-me liberto...

De fato, é até injusto esse jogo da vida; e as vezes é preciso ferir para curar, como o fogo que, com a dor, cauteriza feridas... Por um lado, arrependi-me por achar ter faltado com a caridade... Mas por outro me senti feliz por decretar em alto e bem tom que sou gente, com direito a sentir...

Alguns dias depois, recebi a visita de uma amiga que afirmou ter por mim grande consideração e refinada amizade... kkkkkkkkkk... Será?
Recebendo um amigo, decidimos sair um pouco... Informamo-nos de um bar com música ao vivo e fomos até lá... A tal amiga lá estava, cumprimentou-nos com indiferença e não poupou esforços em deixar claro que a incomodava minha presença ali... E ainda verbalizou: “Não sabia que você conhecia esse lugar!”
Gozado!!! Se ir a um bar beber alguma coisa e ouvir música não é um bom programa para mim porque sou cristão, por que o é para ela que também o afirma ser?

Que pobre esse povo egoísta que requer o direito de ser gente só para si...

Amar a Deus não me limita a humanidade em nada, ao contrário, amplia as minhas possibilidades de viver a minha humanidade em plenitude e com alegria quanto mais unido ao seu preceito e vontade... Vim ao mundo para cumprir minha jornada como gente, e se assim não fosse na origem de tudo teria permanecido... E se aprouve ao Senhor desejar essa minha condição de aqui estar, e como gente bem gente, vou defender tão sublime predestinação... NEM QUE SEJA NA PORRADA!!!

A todos o desejo manifesto da felicidade de se ser gente completa em união indelével com Deus.

domingo, 16 de setembro de 2007

Odeio Fábio Cobra

Esse tema daria uma bela comunidade no orkut, mas quedaria tudo congestionado de tanta gente querendo entrar... kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...

É gozado como é fecundo o silêncio de fora... Digo “de fora” porque, quando em se estando nessa condição, prioriza-se a fala interior, o barulho de dentro – e como somos tagarelas quando nos damos ouvido!!! Parece até que tínhamos a boca da alma amordaçada e, quando solta, não para... Em outra comparação, por falarmos tanto a nós mesmos em meio a balburdia exterior e nunca nos ouvirmos, começamos a falar bem alto, como as pessoas que vão perdendo a audição e falam alto como padrão para serem ouvidas a si mesmas...

É nessa tagarelice da alma, quando em silêncio, que ela reclama seus medos, suas dores; avalia o que lhe faz bem e proclama seus valores... seus tesouros escondidos... É na solidão desse deserto interior que nos descobrimos ricos... e nunca sós...
Seria essa uma solidão acompanhada porque, se sós, nos compartimentos interiores, encontramos a Deus, e a uma multidão de algumas unidades de pessoas que têm significado especial em nossas vidas...

É dentre as parcas coisinhas que guardo, em meio à adega de amigos que curto, que figura o traste do Fábio Cobra, e a ele, hoje, e só por hoje, sem desprezar os outros, de igual estima e valor, vou dar especial atenção pelas peculiaridades da nossa relação.

Conheci o Cobra num tempo desses aí atrás, quando em pastoral aqui em nossa comunidade. Pouco antes da distribuição pastoral dos seminaristas, tínhamos tido um contato com todos, e já tínhamos escolhido os do nosso gosto, entre os quais ele não figurava... Dada a distribuição, ficamos sabendo que não vinham os do nosso afeto...
Essa desilusão, associada à decepção com outros tantos se personalidade e raiz que por aqui passaram, foram acolhidos e amados e hoje, se não nos cuidamos, passam por cima de nós com seus carros, gerou em nós a decisão satânica de não fazer fácil a vida desses trastes (ainda não conhecidos por nós) e de não mantermos com eles nenhum laço...

Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk... Só de lembrar me faz rir...

Vieram então as duas criaturas, entre elas o Fábio Cobra... Fomos recebê-los armados até os dentes... E como era de se esperar, trocamos farpas a torta e a direita... Ah! Disse trocamos porque, enquanto a outra criatura era só doçura e ternura, o Fábio já mostrava a que vinha e destilava, a 3x4, o seu veneno (por isso cobra)...

Terminamos a noite do nosso primeiro contato certos de que nos detestaríamos para o resto da vida, tal qual eu havia planejado e ele respondido em tão alto e bem tom; CERTO?

Kkkkkkkkkkkkkk... Quão burras são as nossas lógicas... kkkkkkkkkkkk... ERRADO, completamente errado...

Foi na aridez desse solo de asperezas e securas que depositamos a semente da nossa amizade...

A guerra não é para sempre (embora nós nos detestemos até hoje... rs rs rs rs...) e, eliminadas as expectativas, fomos nos deixando cativar entre xingamentos e pedradas...

Diferente de outros, para quem preparamos e adubamos o solo e não tiveram raízes, tenho o “Cobra de estimação” até hoje...

Destaquei o Fábio hoje por ser a nossa amizade um exemplo real da graça e benção de Deus... Plantada em deserto a semente da nossa amizade, aprouve ao Senhor fazer jorrar ali junto um pequeno manancial de forma que não precisamos de grandes investimentos, não precisamos estar sempre a regar para nos manter unidos e nosso carinho em expansão... precisamos, minimamente, saber que estamos bem, saber do bem que nos une e, sempre que possível, e se possível, nos encontrarmos para voltar a atirarmo-nos pedras... da aridez, por vontade do Senhor, naquele deserto de nossas mesquinharias, surgiu um oásis de forma que, tenho eu hoje em Fábio um amigo que me dá muito prazer, porque me deixa gostar dele sendo plenamente eu, sem fórmulas, expectativas ou parâmetros, com as asperezas e delicadezas próprias do meu coração... (e como desejaria que com todos fosse assim).

Enche-me o peito um montão de rotos e bens que possuo... mas por hoje não os citarei...

Fabinho, se por acaso leres isso, saiba que eu te AM... Tô te assustando né? Desculpa, vou tentar ser mais claro:

Se por ventura, traste, você me der o desprazer de ler isso, não fique convencido não, é só para dizer do quanto eu lhe detesto.

Agora sim!!! Acho que assim fica melhor manifesto o bem que te quero.

De fato, quem encontrou um amigo encontrou um tesouro... Sou tomado de extrema ganância e, desse bem, desejo encher, até o fim da minha vida, e também depois dela, os cofres do meu coração.

A todos os quantos se dignaram a olhar-me como amigo, o meu muito obrigado.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

MEDO DE SER FELIZ

Há bem pouco tive um medo danado...
E senti medo de sentir medo... rs rs rs rs... Por que o medo é o inverso da paixão (que já tratamos aqui); enquanto um impulsiona o outro freia; enquanto um faz subir, o outro precipita a queda...
Mas o meu medo tinha razões de ser, por isso o medo de senti-lo...
Senti “Medo de ser feliz”...
Fala sério: tinha ou não razão para me preocupar?
Tudo começou assim:

Ao longo da nossa caminhada cristã vamos incorporando, apreendendo as imagens de Deus que nos são passadas; algumas, imagens de elevado teor e glória; outras, superficiais... E todas medíocres, não em sua intenção, mas na forma como são expressas... Falam elas bem mais do esplendor ou pequenez dos seus autores que do próprio Deus; falam bem mais de convenções e culturas que do próprio Senhor do Universo... Assim, acabamos por ver por entre vitrais de cores, luzes e sombras... pelas lentes dos óculos da teorização de alguns sábios... Mas o que vemos não é Deus. Talvez uma dimensão, mas não Sua plenitude (rs rs rs rs... quase escrevi totalidade no lugar de plenitude, como se o conhecimento total de Deus fosse possível a nossa razão... Falo dos ignorantes quanto ao trato de Deus e me mostro o maior deles).

Nesse deserto, com a ajuda de verdadeiros sábios no assunto como Tereza de Ávila, Francisco Sales, Paulo da Cruz, Gema, Afonso, Terezinha, que falam, não por teorias, mas por amorosa experiência, que só se conhece a Deus olhando diretamente para Ele, olhei... Mas olhei bem pouquinho... Era demais pra mim... Olhei Deus onde mais me encanta – na Cruz... Olhei-o aí por vê-lo despido, assim como quero ser fitado por Ele... Olhei-o aí, não por gosto sinistro pela dor e sofrimento, mas por ver a plenitude humana mostrada pelo divino na consumação da vontade do próprio Deus... Mas olhei bem pouquinho... e o que vi foi já suficiente para desmantelar tudo o que sabia, amava e entendia até então...

Caí por terra, eu e meus preconceitos... De repente, num breve, brevíssimo olhar, vi falida a medieval teoria das proibições e pecados, não pela intenção, mas pelos resultados... o Deus da Cruz mostrou-me a plenificação humana erigida na vontade de Deus... Desprezei as proibições e teorias de pecado porque estão mais voltadas para o que não fazer do que para o que fazer para alcançar essa plenitude.

Olhei para Deus, sem vitrais ou lentes... Olhei só um pouquinho e suficiente para desfazer tudo quanto entendido e amado até ali...

Aí senti um medo danado de ser feliz... Olhou-me Deus, não como quem proíbe, mas como quem deseja... Olhou-me, e seus olhos em mim viam uma dignidade que ninguém jamais viu ou poderá demonstrar... Olhou-me Deus, com seus olhos de misericórdia, além da minha iniqüidade... E como único e supremo conhecedor da totalidade do meu eu, sabendo assim das minhas potencialidades em ceder e das suas próprias em operar em mim a graça, mostrou-me tão lindo projeto de sua vontade para com a minha alma que tive medo... medo de ser feliz...

Eu, em meu supremo egoísmo e soberba, jamais imaginara bem semelhante para mim mesmo; o projeto a nós proposto por Deus caiu-me tão surpreendente que pareceu distante, por superar a minha pequenez e mediocridade... Aí senti medo de ser feliz...

Mas, como sabem os que me conhecem que não gosto de ficar por baixo (e até que fim isso me serve de alguma coisa... rs rs rs...), comecei a desejar fazer jus à linda imagem que o Senhor tem de mim, e a segurança e confiança que tem em mim quanto à realização da sua vontade...

Desde então enlouqueci, e nunca vi com tanta clareza e sanidade... Ao excluir do meu peito a doutrina de proibição, temo ainda mais ferir a dignidade com que Deus me olha, só que agora com mais sentido, por amor.

Do que aprendi da vontade de Deus, sei dizer pouco... Sinto mais que entendo... Mas ouso, ignorante, algumas palavras: Quer, o Senhor, não seres tolhidos por proibições, mas plenos, realizados em todas as dimensões da sua personalidade (cognitiva, afetiva e social), limitados apenas pela justeza a sua vontade; seres capazes de devolver ao mundo seu justo projeto inicial de harmonia mútua e com a natureza, sempre tendentes ao melhoramento e superação; seres capazes de enriquecer o mundo de arte, beleza, concórdia, diálogo e respeito as diferenças... Ih! To com vergonha do tão pouco que consigo expressar...

Puxa! Só aqui me dou conta de que começo a entender as palavras de Paulo da Cruz a mim exortadas por Flavinha:
“Quando a Cruz do Senhor tiver lançado profundas raízes em seu coração, cantará: Nem sofrer e nem morrer, mas transformar-se inteiramente na vontade de Deus”...

Sei que, desde que semelhante feito aconteceu em minha vida, e o venho exercitando, voltei a ver tudo como quando era criança, com surpresa e alegria; tudo me causa encantamento e meche no lugar mais profundo da minha’alma, onde nascem os versos e as ânsias; passei a desejar o melhor de tudo e de mim mesmo e a colocar em todo o feito o mais de mim possível, e assim realizar a plenitude que Deus de mim deseja, das pequenas as grandes coisas... quero beijos apaixonados, abraços quentinhos, sorrisos sinceros, a música das horas, a fotografia e filme dos dias... também o “não” que me edifique, a discordância que promova a luz, o anti-sorriso que me acorde dos meus egoísmos...

Senti medo de ser feliz... Eu que me achava o tal, tão forte e destemido...

Agora, já não sinto mais medo de ser feliz...
Logo quando me sinto tão menino, sem armaduras, desprotegido e fraco... kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

OUSE OLHAR PARA DEUS VOCÊ TAMBÉM, MESMO QUE BEM POUQUINHO, COMO EU, E VÁ POUCO A POUCO AMPLIANDO ESSA EXPERIÊNCIA... ASSEGURO, ASSIM COMO EU, SENTIRÁ UM MEDO DANADO DE SER FELIZ, MAS LOGO SE RENDERÁ A EXUBERÂNCIA DO PROJETO E DA VONTADE DE DEUS PARA COM NOSSAS ALMAS... MAS FIQUE TRANQÜILO(A), LOGO SE RENDERÁ E DESCOBRIRÁ QUE VIVER PODE SER MUITO, MUITO BOM...

BEM VINDOS A FELICIDADE.

Um selinho com boquinha de peixe carregado de muitas benção para você em extensão a todas as pessoas que ama.
Amém

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Um pouco sobre as minhas últimas escolhas

Há pouco, muito pouco, fui dois, dividido, apartado entre palpável e essência; infiel a mim mesmo, aprisionado a um suntuoso castelo que de próprio punho e com esmero ergui, e nele me trancafiei...
Por fora suntuoso e invejável; por dentro de igual glamour, mas para mim, que não o desejava, asqueroso, como a fétida sela de uma prisão, apertada, úmida e mal iluminada...
Gozado! Tinha ao meu dispor as chaves, mas agia como um pobre canário, cantando o meu louvor a cada novo dia, não para alegrar os ouvintes (como se pensa ser a função de um pássaro na gaiola), mas para não me deixar sufocar pela triste condição de limitação... Com que apresso me miraram e admiraram meu canto e plumagem... E como, com meu canto, tentei alertá-los da cegueira e obsessão com que edificam gaiolas douradas, mas de nada valeu... faltava tradução...
Diante de mim um dilema: Cantar em vão até a nota do último suspiro ou rasgar o peito num cantar silencioso além daquelas grades?
Era uma questão de vida ou morte... Uma vida vivida em morte pela não realização da sua essência ou uma morte para essa ilusória vida para dar-lhe plenitude e transcendência...
FIZ A MINHA ESCOLHA.
Numa noite, quando entoava para a lua meu solitário canto de amor, deixei-me encantar pelos vaga-lumes, pela luz que nasce dentro, e desejei, nas sombras lúgubres do meu interior, fazer gerar a luz – fato só possível pelo ardor da minha decisão...
FIZ A MINHA ESCOLHA.
Quantas coisas aquela luz iluminou... De glórias e desventuras... Sorri e chorei mais uma vez com cada uma delas, mas em tom de despedida – glórias e desventuras de gaiolas jamais se comparariam a menor delas no mundo dos livres...
Mas ainda há abismos, em menor ou maior largura... maior ou menor profundidade... Quantas e quantas vezes acordei de sobressalto sentido-me perecer caindo em um deles sem desfrutar do gozo da outra margem...
Entre a decisão e a consumação há um breve... e que infinidade cabe nele...
Sob força da decisão, eu, prisioneiro do glamouroso castelo de ilusões (lúgubre sela) tomo em mãos as chaves e abro as grades... De fora, olho o castelo e entendo porque tantos a ele se apegaram... Convido todos os que se agarram as suas colunas a se retirarem...
Escuto ofensas e gritos: “louco...”; “irresponsável...”; “Não concordo...”
Retorno aos umbrais contemplando e amando cada pedra que ali depositei... cada dia... cada instante de alegria ou dor ali vivido....
Retorno, não como quem volta atrás, mas para retirar a força os que ali resistem em protesto. Bato-lhes sem piedade nas faces por considerar o bem que nos espera...
Espalho, por entre as fundações, explosivos... retiro-me... e com imenso prazer... prazer que imaginei, naquelas instalações, nunca mais poder voltar a sentir... o sentindo agora em grau superior ao que jamais imaginei... escuto ainda gritos de protesto... Mas não há mais tempo... O dedo já apertou, com toda a força da minh’alma, o dispositivo...
Vejo tudo ruir como quem assiste a um espetáculo de rara beleza...
Por alguns instantes a poeira nos impede de enxergar...
Causa um breve desespero o imprevisível no inconsciente coletivo de todos...
Mas logo a poeira baixa...
Emudecem então os lamentos e protestos... Não há palavras para descrever o que vemos...


Habituamo-nos muito rápido a tudo... Conseguimos até atribuir valor a preconceitos e grades...
A todos acostumei com a brilhante imagem do meu castelo de ilusões... só mais um na megalópole de outras construções semelhantes entre os viventes... Os gritos e insultos que ouvi não eram menos justos... era o desejo de segurança que mantém a megalópole de ilusões funcionando...


Estão agora todos estupefados...
A ausência da construção, há pouco demolida, nos permitiu a todos ver o lindo Horizonte que as nossas gaiolas escondem...
Exclamações surgem de todas as direções...
Pode-se ouvir até soluços de emoção resultado do que Aquele Horizonte de possibilidades e incertezas causa em cada um que o vislumbra...
Começo a me despedir... Nu, vou me afastando dos demais... Acompanham-me até certo ponto, mas param e me deixam seguir sozinho... como eu, amam o Horizonte, mas estão apegados demais as suas ilusões seguras... e já não me prendem, me estimulam a seguir como que tentando mandar comigo um pouco de si em expansão...
Sigo e redescubro as minhas asas... sou agora como um pássaro no céu, que não semeia nem ceifa, mas a quem o Horizonte nada deixa faltar... Tenho minha nudez vestida como os lírios dos campos, sem fiar nem tecer, a gosto e desejo do próprio Horizonte...
Parto sozinho, mas com uma certeza: todos os que pela minha antiga rua passarem encontrarão, por sobre as ruínas do que fui, um caminho aberto para o lindo Horizonte que amo... e passos bem marcados no chão, para os que quiserem seguir...
Quanto a mim que amei o Horizonte, infundo-me e componho o próprio Horizonte de forma a já não mais se poder distinguir Um do outro...
Como desejei ser o que agora sou...