domingo, 28 de outubro de 2007

Justa distribuição de bens

Desde algum tempo, li um pensamento do Servo de Deus Pe. Airton Freire que dizia mais ou menos assim:

“Se não ter quando se tem que ter pra dar causa extrema dor, ter mãos cheias sem ninguém para receber e desesperador...”

Essas palavras caíram como luva na compreensão de um certo desespero que as vezes sentia...

É fato que sempre, e não houve em minha vida um só segundo em que fosse diferente, fui agraciado com muitas pessoas que me amavam e para eu amar... Nesse bem pelas pessoas está parte da minha vocação...
Mas me dei conta de que não fiz uma boa distribuição de “bens” (entendidos aqui como os regalos do coração), acabei por dedicá-los a algumas pessoas em detrimento de outras.

Daí a confusão...
Nem sempre as pessoas a quem eu destinava esse bem estavam dispostas a recebê-lo fazendo com que eu me melindrasse... Aí o conhecimento do desespero do pensamento do Airton, e a milionésima porcentagem de compreensão do “Tenho sede” do Cristo Crucificado.
Egoísta, só conseguia ver a minha ação de sentir cair por terra todo o bem que dispensava e a dor conseqüente desse desperdício...
Cego pela erva daninha do egoísmo, precisei ser amado de forma desinteressada e sincera para poder enxergar que, semelhante aos que me faziam sofrer pela indiferença, era eu causador de semelhante mal quando, dado a momentâneos apegos, deixava cair por terra bens de incalculável valor a mim dispensados por alguns que, sem o devido reconhecimento, ao meu lado andavam.

Que gozado!!! Algumas das coisas que mais nos causam dor são justamente as que impomos como pena aos outros...

Fica então uma oração de aprendizado para mim e por todos os que amo:

“Que o Amor maior nos conceda a graça de sermos um BEM gratuito para todos”. Amém

Aniversário

Antigamente, o dia do meu aniversário era o dia mais esperado do ano... Sempre marcava, logo quando chegavam os primeiros calendários do ano novo, aquele que era o meu dia mágico, e começava a contagem regressiva...

Parte desse entusiasmo se deve ao zelo da minha mãe que, sem deixar passar um ano sequer, revezando sempre, um ano bolinho interno, noutro festa para amigos, mas sem que esse dia nunca passasse sem doces e carinhos...

Depois de entender-me gente, cessadas as festinhas infantis, esse dia continuava a brilhar como único no ano, por ser tempo específico e dedicado a ação de graças e a estima de me sentir especial...

Mas, de repente, esse dia se apagou do calendário, perdeu o brilho... Pensei que pelo endurecimento causado pela falta de alguns beijos essenciais que já não posso receber...

Mas não... Era o mais puro engano...

Tomando posse da estima e do amor de Deus por mim, ao pensar ter perdido o brilho esse dia de me sentir especial, fui enganado pelo efeito de ter todo o calendário se iluminado... Já não preciso de um dia para me sentir especial e dar graças a Deus; hoje, me sinto especial todos os dias e faço quanto posso para fazer, da minha própria vida, a ação de graças devida ao Senhor da vida.
E o dia do aniversário? Só uma razão para cair de boca no bolo de chocolate além da medida e dar boas risadas na companhia de quem amo.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Anjo e Demônio

Estranho como, no silêncio, as coisas parecem tão evidentes e causam sempre tanta divisão... Ouvimos sempre tantas coisas a que não procuramos o sentido e nem damos o devido valor... Mas no silêncio isso não é possível... E mais, ficamos sempre no pêndulo entre se certos ou errados... Não sei explicar muito bem...

Disse isso para introduzir os efeitos de uma frase que ouvi essa semana:

“Você exige muito das pessoas!”

Que confusão!!! Eu não sabia se me regozijava comigo mesmo ou se tomava “chumbinho” de uma vez e liberava a raça humana da maldição “eu”... kkkkkkkkk...

Dramas e gracejos a parte, essa observação caiu como uma bomba em meu interior, principalmente porque eu já a havia ouvido antes, só que sem dar-lhe atenção...

Senti-me extremamente culpado, como que em situação de supremo desrespeito para com as pessoas, para com o processo natural, e diferente para cada um, de desenvolvimento pessoal. Senti, levando em consideração experiências bem próximas, que talvez não tenha amado as pessoas como elas são; e uma tristeza profunda se apoderou de mim...

Repensei minha postura como educador, de como exigia dos meus alunos o melhor, de como insistia em aprofundar conteúdos, até além do que estabelecido para seus ciclos por conhecer-lhes a capacidade e o maravilhoso potencial que enchia as nossas aulas de questionamentos, exclamações e alegria... (saudades)... Aí veio uma mãe e disse, no ano posterior: “A minha filha, na sua matéria, vivia sempre no limite; agora, na escola “bambambam”, onde deveria ter dificuldades, só tira notas boas...”. Não sei se por desencargo de consciência pensei que talvez essa facilidade se desse ao fato de termos introduzido tantos conteúdos da série posterior, mas veio mais uma vez a exclamação alta e intrigante:

“Você exige muito das pessoas!”

E dói, viu!!! Tenho que dizer...
Talvez isso justifique as dificuldades que tive, ao longo da minha vida, com pessoas de cargos e egos superiores; talvez tenha-lhes exigido demais, solicitando melhorias, ofendendo-os assim em suas tão excelentes imagens de si mesmos...

De fato, nunca me conformei com pessoas de pensamentos pequenos... sonhos pequenos... Sempre lhes reclamei grandes sonhos, desabrochar de dons, mostrar as incríveis almas que carregavam mas que escondiam por ter se deixado oprimir por pressões exteriores ou pequenas derrotas... Estava sempre a fazer pressão contra pensamentos, ações e atitudes medíocres que não condizia com suas capacidades no intuito de fazê-las sempre desejar o melhor de si mesmas...

Assim eu me justifiquei ao que ela retrucou:
“Mas você não pensou que talvez elas fossem aquilo mesmo e estivessem felizes com o que são?”

Aí eu silenciei com um nó enorme na garganta que só agora consigo botar fora...

Passei a imaginar que talvez não tenha exigido de mim mesmo como exigi das pessoas; quis tanto que os outros fossem melhores que esqueci de ser melhor eu mesmo; afrontei a mediocridade sendo eu o mais fiel portador dela...

Agora, fazendo uso desse meio público, por saber terem sido muitas as minhas vítimas e assim não podendo fazê-lo pessoalmente, quero pedir desculpas pelo desrespeito aos seus momentos, aos seus jeitos de ser... e espero, encarecidamente, ser desculpado.